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Lula volta ao palanque e ataca Moro e Bolsonaro

Em seu primeiro pronunciamento depois da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular suas condenações nos processos relativos à Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-juiz Sergio Moro, atacou a política econômica do atual governo e adotou um discurso de campanha, embora não tenha confirmado se se será novamente candidato nas eleições de 2022, informa O Globo.


Em discurso e entrevista coletiva nesta quarta-feira, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), Lula evitou até mesmo cravar que o candidato da esquerda será do PT. Para o líder petista, não é o momento de fazer essas definições. “Em 2022, o partido vai pensar no momento das convenções; discutir se vai ter candidato, se vai de frente ampla.” Para ele, uma "frente ampla" não significa a junção apenas de partidos e lideranças de esquerda, mas sim de forças de centro e conservadoras. "Você pode construir um programa que envolva setores conservadores, por exemplo a questão da vacina, do salário emergencial”.


Ao falar sobre economia, o ex-presidente criticou o apetite por privatizações e disse que a situação econômica do Brasil hoje é tão complicada que o capital privado não quer investir aqui. "Vocês nunca ouviram da minha boca falar em privatização. Quem acha que só a iniciativa privada é boa?", questionou Lula. "O que vai fazer nossa dívida diminuir é o investimento público. Quando venderem [as empresas públicas] e gastarem todo dinheiro em custeio, o país vai ficar mais pobre. Se o Estado não investe, por que o empresário vai investir?"


O ex-presidente citou como exemplo que a indústria automobilística "é a metade do que era em 2008". "Se não tem emprego, não tem demanda", disse. Lula relembrou os tempos da descoberta do pré-sal, disse que o Brasil produz combustível com a qualidade da União Europeia e que não faz sentido seguir o preço internacional do petróleo. "Teve golpe contra Dilma [a ex-presidente Dilma Rousseff] porque queriam que o petróleo não ficasse nas mãos dos brasileiros, mas dos americanos." O ex-presidente cobrou ainda a retomada do auxílio-emergencial, para desempregados, informais e pobres durante a pandemia.


"O Estado só pode deixar o auxílio emergencial quando tiver emprego, renda. Tem que ter salário emergencial para as pessoas não morrerem de fome", disse. Lula criticou Bolsonaro por não dialogar com setores da sociedade, como os sindicalistas e empresários. "Me parece que Bolsonaro só fala com o 'louro' da Havan", afirmou em referência ao empresário Luciano Hang.


"O povo não precisa de armas, precisa de salário, livro, educação; é possível governar diferente. O Brasil não é dele [Bolsonaro] nem dos milicianos", disse o petista. "O país chegou a 6ª economia do mundo, era altamente respeitado; o país tinha um projeto de nação. O que tem hoje?", acrescentou.


Para Lula, Bolsonaro “só se preocupa em vender armas e em defender milicianos”. "Não tenham medo de mim; eu sou radical porque quero ir à raiz do problema, quero construir um mundo justo."


Lula começou os ataques a Bolsonaro pela condução do combate à pandemia, dizendo que muitas mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse uma atitude diferente diante da doença. "Teve momento em que teve vacina e o Brasil não aceitou porque o presidente inventou cloroquina, que a covid era uma gripezinha", disse Lula. "Este país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem governo. Esse país não cuida da educação, da periferia; ou seja, do que eles cuidam?" Lula elogiou o trabalho dos governadores, uma "luta titânica contra um governo incompetente".


Lula disse que vai fazer propaganda para a população para que siga recomendações científicas de prevenção ao coronavírus. "Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Mas é preciso continuar o isolamento e utilizando máscara." O petista citou o recorde de quase 2 mil mortes por dia batido ontem pelo Brasil e disse que as mortes estão sendo naturalizadas. "Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se o governo tivesse feito o elementar. A arte de governar não é fácil, é a arte de tomar decisão. Se o presidente respeitasse o povo, teria criado um comitê de crise em março de 2020." Para Lula, Bolsonaro "não sabe o que é ser presidente" por que "nunca foi nada". "O poder da força do fanatismo e das ‘fake news’ fez com que o povo elegesse Trump e Bolsonaro", disse o ex-presidente. O ex-presidente disse que vai seguir brigando na Justiça para que Sergio Moro seja considerado suspeito nos casos da Lava-Jato que julgou.

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