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Os sete pecados capitais dos governantes

Atualizado: 14 de nov. de 2019


Os governantes não gostam de ver seus retratos em preto e branco. Só a cores. Alguns até olham para o espelho, como a madrasta da Branca de Neve, e tascam a pergunta: “espelho, espelho meu, há alguém mais competente do que eu”? O deleite que desfrutam na cama do poder acaba desenvolvendo neles uma cultura de fruição e gozo, que lhes enfraquece a capacidade de ver as coisas com isenção, acuidade e objetividade. Tornam-se imunes à realidade. Cobrem-se com um manto que os deixam em estado contínuo de dormência. O poder provoca delírios e, assim, com o porre que lhes adormece as mentes, os governantes cometem seu primeiro pecado capital. É o pecado da insensibilidade.


De tanto ver de perto, eles se desacostumam a ver de longe. Da tênue auto-confiança do início do governo, passam a maximizar essa qualidade, após três anos com a caneta na mão. Transformam-se em imperadores, donos do mundo, senhores de capitanias hereditárias. Incorporam o Complexo de Olimpo, com toda sua aura divina. Com tal identidade, as realizações e programas do Governo deixam de ser algo inerente à função de governar para se transformar em feitos pessoais do governante magnânimo e generoso. A população é inoculada com a injeção mistificadora que projeta a identidade física do governante sobre o conceito jurídico do Governo. E o pior é que os governantes acabam se achando com a cara de Deus. Flagra-se, aqui, seu segundo pecado capital, o pecado do sentimento da onipotência.


O mandonismo imperial está calçado no poder monetário. Os governantes decidem o quê, onde e como fazer. O planejamento orçamentário contemplará obras fundamentais, porém não deixará de atender o varejo eleitoral. Para eles, o dinheiro compra tudo. Com muito dinheiro, não perderão a eleição. E aqui está seu terceiro pecado capital. O pecado da crença na força absoluta da grana. Depois de meses de incessantes atividades administrativas e políticas, os governantes amolecem a musculatura e começam a padecer de rotinite aguda. Os Estados e Municípios comem apenas o feijão e o arroz necessário à magra existência. Não há nenhuma criatividade, não se buscam soluções inteligentes e inovadoras. E o caldo insosso acaba gerando o quarto pecado capital dos governantes, o pecado da rotina.


Daí para o quinto pecado, o salto é pequeno. Pois os governantes já não obedecem a uma agenda planejada. Não administram seus tempos de acordo com um sentido de prioridades e lógica. Tudo ocorre ao bel-prazer. E a desorganização grassa, bagunçando as malhas burocráticas e gerando o pecado da improvisação. Mas tudo vai às mil maravilhas, para eles, porque os seus assessores mais próximos capricham no puxa-saquismo. Vivem fazendo elogios, escondem as coisas mal feitas, sobre-valorizam os feitos positivos. As assessorias desqualificadas e os grupinhos de “luas-pretas” constituem um dos maiores danos à imagem e à eficácia dos Governos, descortinando o panorama do sexto pecado capital, o pecado da bajulação consentida.


E lá se vão os governantes desfilando suas glórias, feitos e emoções à imagem e semelhança do Criador. Suas carruagens de fogo e seus cometas planetários trafegam pelos céus, deixando rastros de nuvens coloridas que se esvaem nos ventos do tempo. De tanto andarem de sapato de salto alto, os governantes acabam pisando nos pés do povo.Têm respostas prontas para perguntas que não são feitas. E são capazes de provar que o melhor para as massas desprovidas e incultas é aquilo que eles acham que elas merecem. Fogem das pesquisas como o diabo foge da cruz. E, nesse ponto, os governantes abrem seu pequeno inferno para comemorar o sétimo pecado capital, o pecado do descompasso com o senso comum. Rezemos por eles um Pai-Nosso.

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