O grande desafio: interagir com a realidade
As extraordinárias transformações por que passa a Humanidade estão a impor aos cidadãos crescentes desafios. A sociedade industrial dá lugar à sociedade da informação instantânea. Os sistemas políticos das Nações, que antes agiam sob o império da auto-suficiência, agora descobrem que fazem parte de um mundo interdependente, onde a transnacionalidade imbrica os eixos de suas economias. A mudança no conceito do trabalho – a partir das múltiplas escolhas – e a ruptura do antigo conceito sobre as relações capital/trabalho (acabou-se o conflito clássico) motivam grupamentos profissionais a adotar novas posturas e realinhamentos.
O estiolamento partidário, o arrefecimento doutrinário e a emergência de novas instituições, principalmente no campo da intermediação social (organizações não-governamentais), abrem importantes mudanças no conceito da política. Os governos perdem força no capítulo da liderança centralizada, em função de novos pólos emergentes de poder e da expansão das estratégias de descentralização administrativa. A mudança na administração pública e a reforma do Estado se descortinam como imposições naturais, que avançarão sobre os defensores do status quo.
A própria crise da democracia representativa – expressa pelos compromissos assumidos e não cumpridos, na perfeita cobrança de Norberto Bobbio, cientista social e político italiano, – indica novos rumos, dos quais não podemos deixar de anotar a tendência para o fortalecimento de formas variadas de democracia direta e participativa (grupos organizados e sistemas diretos de pressão e decisão). No campo empresarial, fenecem as superestruturas pesadas e piramidais, que cedem lugar a espaços mais horizontais e a processos de comunicação mais rápidos. A horizontalização empresarial diminui a distância entre os espaços hierárquicos.
Esse é pequeno retrato das mudanças e tendências. Dentro delas, movimenta-se o universo profissional das organizações privadas e públicas. O maior desafio dos profissionais e homens públicos, é o de interagir com as novas realidades, o que pressupõe capacidade de adaptação à densidade tecnológica dos novos tempos, à decisão de abandonar velhas posturas, particularmente na área de ajuda institucionalizada e assistencialista.
Os cidadãos se defrontam com o inexorável futuro que chega em ritmo alucinante. Como enfrentá-lo, que passos deverão ser dados para uma perfeita adaptação aos novos parâmetros que estão a regular a vida e o trabalho em todas as esferas? Uma das mais eficientes estratégias está no campo da preparação pessoal. O marketing, objeto de muitas passagens deste livro, pode ajudar em alguma coisa? A resposta é sim. Há uma espécie de marketing que pode contribuir para preencher as necessidades do profissional nesses tempos de alta competitividade e crescentes exigências por qualidade. É o marketing pessoal.
Em lugar de dispor de elementos e situações para viabilizar o sucesso de organizações privadas e públicas e para as atividades do mundo político, o marketing tem um campo voltado exclusivamente para o interior das pessoas. Nesse caso, ele busca sua fundamentação nos próprios compartimentos psicossomáticos com a finalidade de reequipá-los, ajustá-los, azeitá-los, deixá-los, enfim, em condições de entrar nas guerras para ganhar.
Para melhor compreensão do marketing pessoal, utilizaremos, a seguir, um conjunto de idéias, princípios e valores que, aplicados de forma sistemática, podem contribuir para a criação de novas qualificações e desenvolvimento de potenciais de executivos, chefes, administradores públicos, dirigentes de todas as esferas e atores políticos.
Antes, uma constatação: milhares de pessoas dentro do universo organizacional e político estão insatisfeitas com a sua situação. Ou ganham pouco, estão desajustadas no ambiente de trabalho, têm atritos com os chefes, frustram-se ante as remotas possibilidades de crescimento profissional ou, quando políticos, se vêem ameaçados por concorrentes. Dirigentes temem perder o cargo. Vêem-se ameaçados pelo crescimento de subalternos. Abate-se sobre eles certo desânimo, sentimento de mesmice e até forte frustração, que vai exaurindo as energias. Políticos sentem-se ultrapassados ou ameaçados por concorrentes.
Que fazer? Deixar que o processo de obsolescência acabe por mergulhá-los em uma depressão profunda, tomar uma grande decisão e mudar completamente de rumo ou encontrar meios e formas que, integradamente, possam lhes tirar do estado letárgico? É arriscado mudar radicalmente de posição. O bom senso aconselha que se procure uma via mais lógica, um rumo no sentido de buscar soluções para soerguer e aperfeiçoar a pessoa. É aqui que entra o marketing pessoal.
Planejar o sistema de vida, eis a fórmula que pode funcionar para a pessoa como “a varinha de condão” do crescimento. Para muita gente, o conceito de planejamento é algo abstrato, longínquo, difícil de ser alcançado. Trata-se de um preconceito que precisa ser enfrentado. Planejar é simplesmente definir rumos, escolher meios e decidir sobre a oportunidade das ações.
Todas as pessoas que agem com mentalidade de marketing dão-se bem. O desafio que se coloca, preliminarmente, é o de pensar mercadologicamente. O treino cotidiano faz parte da estratégia de incorporar o marketing às rotinas profissionais. Portanto, o primeiro passo é acreditar que um bom planejamento de marketing pessoal favorece o crescimento profissional. Para facilitar a decisão e compreensão em torno do marketing pessoal, serão descritos conceitos e valores que, usados de forma sistemática, podem contribuir para maximizar as condições profissionais e as qualidades pessoais.
Trinta conceitos-chave
1. O auto-conhecimento – Esta é a primeira lição: conhece-te a ti mesmo, ensina a máxima grega. O auto-conhecimento permite que a pessoa defina os seus limites, tome consciência de seus potenciais, possa partir para definir seu modelo de vida. Sun Tzu, filósofo e general, em um notável documento escrito há mais de 2.500 anos, cunhou este pensamento: “se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. O auto-conhecimento é a pedra sobre a qual se constrói a identidade. E a identidade é a marca de diferenciação da pessoa.
2. Definir metas e objetivos – A definição de metas e objetivos começa pelos limites onde a pessoa quer chegar. Significa decidir-se por uma posição, um posto, profissão, um cargo, um caminho. Quando metas e objetivos não ficam claros, as pessoas tendem a cair no vazio das indecisões, arrefecendo o ânimo e amortecendo a vontade. Quando se sabe para onde ir, o passo faz avançar o corpo, não se arrasta. Se a pessoa tem vários objetivos, conta, no mínimo, com a possibilidade de alcançar um deles, sendo, até, possível, atingir vários, ao mesmo tempo. O importante é escolher uma trajetória de ação, e dentro dela, selecionar alternativas diferenciadas. E, atenção, não se deixar influenciar por pessoas negativas, que desacreditam em seus potenciais. A propósito, uma historinha de sapos é muito ilustrativa: os sapinhos tinham de subir um morro muito alto. A multidão vibrava com a escalada dos sapinhos, mais torcendo para despencarem do que pelo sucesso da empreitada. “Aquele vai cair, aquele outro, também. “ E assim, de um em um, os sapinhos, cansados, iam despencando sob os apupos da galera. Menos um. E a multidão continuava a torcer...contra. Os sapinhos desistiam. E caiam. Menos um. Que chegou até o cume do morro. Correram para saber como ele conseguira. Tiveram uma grande surpresa: o sapinho vencedor era surdo. Moral: seja surdo aos apelos negativos. Vá em frente. Você poderá vencer!
3. Guiar-se por um conjunto de valores. Há alguns valores que conferem grandeza ao caráter. E uma pessoa de caráter angaria respeito e credibilidade. Há valores que não se impõem, nascem com as pessoas, constituem herança genética e cultural. Outros podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados. Lembramos, por exemplo, a coragem e, mais que isso, a audácia. O audacioso pode conseguir o milagre de Maomé. Como se sabe, Maomé levou o povo a acreditar que poderia atrair uma montanha. Do cume, faria preces a favor dos observadores da lei. O povo reuniu-se; Maomé chamou pela montanha, várias vezes, e como a montanha ficasse quieta, não se deu por vencido. Proclamou: se a montanha não quer vir ter com Maomé, Maomé irá ter com a montanha”. É preciso ter audácia para reparar os feitos, corrigir os caminhos. A coragem não é a ausência do medo, mas a capacidade de enfrentá-lo e superá-lo. É preciso praticar a humildade, que não significa humilhação, mas a capacidade de reconhecer as fraquezas pessoais. A humildade, ensina a lição dos clássicos, é a virtude do homem que sabe não ser Deus. Para o filósofo alemão G.E. Lessing, “todos os grandes homens são modestos”. Não se pode esquecer a coerência, que imprime retidão à história do homem e preserva a homogeneidade de seu pensamento. A generosidade, por sua vez, coloca os homens no cordão da solidariedade. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, é senhor de si. Desenvolver a paciência também é um desafio do marketing pessoal. A paciência, dizia G. Leopardi, poeta italiano, é a mais heróica das virtudes, justamente por não ter nenhuma aparência heróica”. E, neste campo de valores, não se pode deixar de lado a preocupação em procurar defender e preservar a verdade. A verdade acaba prevalecendo sobre a mentira. Não adianta querer tergiversar. Há momentos que aconselham emitir versões diferentes da verdade. Muito cuidado. Como sugere o escritor polonês H.Sienkienicz: “a mentira, como o óleo, flutua na superfície da verdade”.
4. Procurar compor a apresentação pessoal – Essa recomendação tem por objetivo ajustar a identidade e a imagem da pessoa. E isso se consegue estabelecendo-se ajustes na forma de apresentação pessoal – trajes, comportamento, gesticulação – procurando-se incorporar detalhes, novas formas e posições. O profissional precisa se adaptar aos tempos e aos ambientes. O cuidado com a aparência é, assim, muito importante. Infelizmente, muitos ainda julgam segundo a aparência, não segundo a essência. Mas todo cuidado é pouco para evitar exageros. É oportuno lembrar que as pessoas nem sempre são o que parecem. Como sugere o poeta alemão Novelis, ao escrever: “quando vemos um gigante, temos primeiro de examinar a posição do sol para termos certeza de que não é a sombra de um pigmeu”. Cuidar da aparência é necessário; exagerar na aparência é um contransenso.
5. Aperfeiçoar a comunicação – Abrange um conjunto de ações relacionadas à melhoria do discurso (substância) e maneira de interlocução (forma de comunicar-se). Aconselha-se um programa de leituras de jornais, revistas (economia, política, ciência, artes e espetáculos, cultura etc.), livros de ciência política, economia e administração, perfis de grandes realizadores, história contemporânea. O profissional do mundo moderno não pode estar à margem dos acontecimentos nos diversos campos do conhecimento. Saber usar tais conhecimentos, em momentos adequados, constitui uma estratégia que dará bons resultados. O aperfeiçoamento da expressão pode ser conseguido com um programa de treinamento de mídia, quando o profissional passa por uma bateria de aprendizagem. Aí, tem oportunidade de conhecer as manhas da imprensa, enfoques e abordagens mais apropriados, desenvolvendo, ainda, a fluidez de pensamento e expressão.
6. Aprofundar-se no campo da especialização – Além do entendimento geral das coisas, será necessário um domínio mais completo e profundo em torno de determinadas áreas de interesse profissional. Nesse sentido, aconselha-se a leitura permanente de conteúdos especializados, por meio de consulta a periódicos, participação em cursos, palestras e eventos específicos no campo da especialização. Princípio recomendado: querer ser o melhor no campo. É oportuno lembrar uma historinha em torno de Temístocles, o ateniense altivo, que levava muito sério sua pessoa. Numa festa, convidado a tocar cítara, disse: “não sei tocar música, mas posso fazer de uma pequena vila uma grande cidade”. Eis a demonstração do conhecimento específico.
7. Desenvolver a criatividade – Procurar sempre formas diferentes para enfrentar a labuta cotidiana. Significa sair da rotina, evitar a acomodação. A criatividade motiva, amplia espaços, proporciona novas possibilidades. Francis Bacon, filósofo inglês, conta, em seus Ensaios, essa ilustrativa história: quando o armênio Tigrane, instalado sobre uma colina com 400 mil homens, viu avançar o exército romano que não contava mais de 14 mil, ficou muito bem disposto e abriu o verbo – “para embaixada é de mais, para combate é de menos”. Antes do pôr do sol, o pequeno exército romano infligiu uma derrota, com enorme carnificina, ao gigantesco exército armênio. A arma: criatividade. Ou, como disse Brecht, escritor alemão, “perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva”.
8. Ampliar faixa de relações – As rotinas levam as pessoas à acomodação, tornando-as participantes de feudos mentais. É preciso quebrar o círculo de amigos e vizinhos, ampliando o circuito de conhecimentos com a incorporação de novas pessoas no jogo da interlocução. O enriquecimento sócio-cultural depende também da ampliação do discurso. Se possível, procurar contatar líderes, pessoas que fazem trabalhos comunitários, gente que está situada no chamado circuito da formação de opinião. “Se um homem não faz novas amizades à medida que avança na vida, ficará logo sozinho”, ensina o escritor inglês S.Johnson.
9. Aproveitar melhor os conhecimentos – As pessoas tendem, normalmente, a ficar quietas em seu canto, numa atitude de recatado uso dos conhecimentos. Tal atitude não combina com o sentido pró-ativo dos tempos modernos. Se uma pessoa leu algo que lhe interessou, deve tentar passar adiante tal conhecimento; se aprendeu nova técnica, deve procurar implementá-la; se travou relações de amizade com uma pessoa, deve procurar estreitar as relações. A recomendação é no sentido de fazer girar o conhecimento adquirido. Não trancá-lo a sete chaves. A medida dará resultados positivos.
10. Formar uma base mínima de organização e memória – Muitos conhecimentos, situações e fatos do dia-a-dia profissional são rapidamente esquecidos. Há pessoas que estão sempre começando coisas, porque perderam parcela substancial de sua memória profissional. Aconselhamos o mínimo de organização: um bom arquivo, fichas de situações, catálogos, listas de endereços e telefones, cópias de trabalhos, próprios e de outros autores. É fundamental o uso do computador e das novas tecnologias. A memória é extremamente importante para o avanço profissional. Tente comprovar.
11. Procurar acumular conhecimento – Para atingir este objetivo, faz-se mister estar atento às mudanças e circunstâncias. Urge acompanhar as mudanças nas áreas da política, economia, negócios, expansão empresarial, enfim, as ocorrências e eventos do meio ambiente. Pinçar, a partir daí, os espaços e áreas de interesse que mereçam aprofundamento conceitual. As antenas precisam estar ligadas a qualquer alteração de rota. O profissional pode, a qualquer momento, precisar tomar decisões rápidas ante as circunstâncias. Se estiver por fora dos fatos, certamente vai ser pego pela ignorância. Como já disse Sócrates, “existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”.
12. Usar o bom senso – Freqüentemente, a solução está ali adiante, pertinho, e não distante, como se pode imaginar. Por isso, antes de se buscar caminhos complicados, é aconselhável olhar ao redor, na linha da tentativa de descobrir o senso comum. Leopardi conta o seguinte episódio: “quando perguntaram a uma tal pessoa o que haveria de mais raro no mundo,elas respondeu – ‘aquilo que é de todos, ou seja, o senso comum“. O senso comum é, às vezes, escolher a melhor estratégia. Existem duas grandes linhas estratégicas à disposição de uma pessoa: a estratégia direta e a estratégia indireta. A primeira ampara-se no conceito de enfrentamento frontal de uma situação; a segunda se vale do conceito de usar formas indiretas, sinuosas, para alcançar os objetivos. Carlus Matus dá o exemplo de uma tourada: o touro segue uma estratégia direta, já o toureiro trabalha com uma estratégia indireta. A estratégia direta é mais rápida e define logo resultados. A indireta é mais eficiente por permitir maior economia de recursos, desde que se tenha tempo.
13. Evitar excessos – Nessa mesma linha de pensamento, os excessos devem ser evitados, pois, como lembra o vulgo, tudo demais é veneno. Ou como bem demonstra esta sábia sentença cingalesa: “limpeza exagerada ou falta de limpeza; crítica abundante ou elogio farto; excesso de cortesia ou descortesia – eis aí seis características do estúpido”. Esse conselho quer significar, ainda, a necessidade de se trabalhar com os recursos essenciais, as idéias centrais, dispensando-se as coisas desnecessárias para se alcançar objetivos e metas.
14. Evitar o ridículo – As coisas ridículas são razoavelmente aferidas pelo bom senso. Nem sempre, conseguem ser detectadas por algumas pessoas. É preciso estar atentos a elas. Leopardi, já citado aqui, diz que “as pessoas são ridículas apenas quando querem parecer ou ser o que não são”. Ridículo é o artificialismo na construção dos discursos; ridículos são os perfis que se desmancham com um exame mais apurado. Ridículas são pessoas que pretendem mostrar o que não têm, ser o que não são e dizer o que não sabem.
15. Defender um ideário – É preciso ter fé, defender firmemente uma crença. A pessoa amorfa, sem opinião, sem paixão, sem valores, sem princípios, assemelha-se a um vegetal. Como prega o mártir da causa dos negros norte-americanos, Martin Luther King, “se um homem não descobrir nada pelo qual morreria, não está pronto para viver”. A construção de um ideário não é uma tarefa artificial. O ideário é a somatória de lições de vida e de experiências, de alegrias e tristezas, de conhecimento acumulado e dos valores adquiridos ao longo da trajetória. Uma pessoa sem ideário é como uma lesma que se desconstrói com uma pequena pitada de sal. É de Blaise Pascal o pensamento: “posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais que necessária do que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho.”
16. Fazer as coisas com emoção – “A emoção é necessária, porque sem ela não se pode viver. O importante é sonhar e ser sincero com seu sonho”. A frase é de Jorge Luis Borges, o grande argentino, que deu à literatura latino-americano um status de primeira grandeza. Sem emoção, a vida perde a graça. Para um profissional, vida sem emoção não tem sentido. Trabalhar com prazer e por prazer, não apenas por dinheiro; fazer as coisas de que se gosta; buscar momentos de paz interior; encontrar amigos, bater o papo do fim de tarde, selecionar os cantos, os espaços e as cores – tudo isso contribui para lapidar o cotidiano com o toque da emoção.
17. Saber administrar o tempo – Sêneca, o grande sábio, escreveu sobre a Brevidade da Vida, onde diz: “não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido”. Saber administrar o tempo é, hoje, um dos desafios instigantes do nosso cotidiano. O tempo não se mata. “Quem mata tempo é suicida”, satiriza Millor Fernandes. A reprimenda é do dramaturgo inglês H.D.Thoreau: “como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade”.
18. Saber administrar as dificuldades – Crescem as dificuldades no mundo do trabalho. E é preciso conviver com elas. Não adianta entrar em desespero. A lição é de Terêncio, o grande pensador latino: “nada é tão difícil que, à força de tentativas, não tenha resolução”. Quando partiu para conquistar a Ásia, Alexandre Magno tinha um exército de 35 mil homens. A força persa dispunha de um fabuloso exército de um milhão de soldados. O filho de Filipe queria ser maior que o pai. Era um obstinado. Para ele, não tinha problemas insolúveis. Gostava de enfrentar dificuldades. Foi em frente. Venceu os persas e continuou expandindo seu império. A pessoa não se deve deixar abater com o acúmulo de dificuldades. Precisa pensar grande e positivamente. Assim, vencerá uma a uma.
19. Viver o presente – Procurar viver intensamente o hoje. Também é de Sêneca o pensamento: “dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente”. Há pessoas que passam o tempo preparando o futuro, deixando de lado as grandes oportunidades de momento que poderiam ser felizes. Ocupar o tempo é viver. Deixar de ocupá-lo é um descompromisso com o ideal da existência. Como musicou John Lennon: “vida é o que acontece quando você está ocupado, fazendo outros planos”.
20. Ter coragem de arriscar-se – “Somente aqueles que se arriscam a ir muito longe, têm possibilidade de descobrir até onde podem chegar.” A frase é de T. S. Eliot e, certamente, resume um projeto de crescimento. Quem quer ir longe não pode ficar no mesmo lugar sempre. Quem quer enfrentar novos desafios não pode se acovardar. Quem quer sentir diferentes gostos da vida deve procurar novos temperos. O crescimento implica certa dose de risco. E de coragem. Como canta o profeta Zarastustra: “ânimo tem quem conhece o medo, mas vence o medo; quem vê o abismo, mas com altivez. Quem vê o abismo, mas com olhos de águia, quem deita a mão ao abismo com garras de águia – esse tem coragem”.
21. Saber comandar – Não deixar passar o momento. Não deixar o cavalo selado passar pela frente e correr sozinho. Portanto, se houver oportunidade, monte no cavalo que passa na frente, na sua porta, assuma um novo cargo, cresça, suba no andar mais alto, até o último andar do edifício, se for capaz, e as circunstâncias o ajudarem. Mas quem quer comandar, precisa conhecer o princípio, exposto na máxima aristotélica: “quem se dispõe a tornar-se um bom chefe, deve primeiro ter servido a um chefe”. Sun Tzu ensina: o chefe habilidoso conquista as tropas inimigas em luta; toma suas cidades sem submete-las a cerco; derrota o inimigo sem operações de campo muito extensas. Um chefe consumado cultiva a lei moral e adere estritamente ao método e disciplina. Está em seu poder controlar o sucesso”. É oportuno lembrar, ainda, que a autoridade do chefe repousa sobre algumas faculdades, como: inteligência(compreendendo aptidões naturais, capacidade de discernimento, clarividência, sentido de prioridade, sentido do real, sentido do possível, sentido das comparações, visão de conjunto); boa formação geral, profissional e psicológica; experiência e qualidades de administrador (previsão, organização, direção, coordenação e controle). A esse conjunto, somam-se qualidades humanas, como: espírito de disciplina, lealdade aos superiores, consagração a causa comum, respeito ao próximo, integridade, compreensão e sentido de ajuda, entusiasmo e iniciativa, confiança em si mesmo, tenacidade, domínio de si mesmo, estabilidade, equilíbrio e esforço permanente para aperfeiçoamento pessoal.
22. Ter capacidade de inovar - Buscar situações novas, reformar sistemas e métodos de trabalho, conservar permanente disposição para inovar – estes desafios geram motivação, reanimando as equipes e oxigenando as estruturas. A capacidade de inovar depende de como o profissional enxerga o seu dia a dia. Mesmo que esteja satisfeito com as coisas, deve sempre procurar aperfeiçoar as atividades. Ou seja, sugere-se colocar o trabalho sob uma ótica de inquietação. Mais uma vez, Zaratustra é um bom conselheiro: “ novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga: como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas”.
23. Comprometer-se com resultados – O planejamento eficaz é aquele que se volta para resultados. Qual é a finalidade do programa, em que tempo serão alcançados os resultados, quais os meios necessários para se alcançar as metas? Esta é a pauta da preocupação rotineira de quem quer ter satisfação com o que faz. A pessoa, na verdade, colhe o que semeia. E se alguém não impõe a si mesmo algumas metas e resultados, não se sente motivado a alcançá-las.
24. Defender a reputação- A identidade de uma pessoa é a soma de suas qualidades e defeitos. E a respeitabilidade de uma pessoa é a sombra de sua reputação. Por isso, quem deseja ser respeitado precisa zelar por sua reputação. O escritor espanhol Quevedo y Vilegas cunhou este pensamento: “aquele que troca a reputação pelos negócios, perde os negócios e a reputação”.
25. Criar fatos, gerar idéias - As atitudes e comportamentos distinguem as pessoas. Os líderes são aqueles que tomam a iniciativa, energizam os ambientes, criam as condições de mobilização. São tipos pro-ativos que não ficam esperando as coisas acontecerem. Já os reativos só agem em respostas a estímulos. A história registra o sucesso de todos aqueles que abriram horizontes, descortinando oportunidades, distinguindo novos cenários. Por isso mesmo não se deve esperar pelos fatos, é preciso – quando for necessário – criá-los. O estrategista é aquele que gera alternativas diferentes. Segundo o oráculo, quem desatasse o nó que atava o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frigia, dominaria a Ásia. Muitos tentaram desatar o nó de uma corda feita com a casca de uma árvore de nome cornácea. Alexandre Magno vislumbrou duas opções: desfazer o nó ou cortá-lo com a espada. Escolheu a espada, a idéia mais criativa. Conquistou, depois, a Pérsia, que seu pai, Filipe, não conseguira.
26. Conter as emoções radicais – A emoção é necessária, sem ela uma pessoa se transforma numa parede fria. Mas emoções violentas precisam ser controladas. Como ensina o cardeal Mazzarino, em seu Breviário dos Políticos: “evita te exaltares muito rapidamente com alguém porque em muitos casos te darás conta de que te confundiste através de falsos relatos. Mas se nesse entretempo tu te deixaste levar pela cólera, os erros recairão sobre ti.”
27. Preservar a verdade – A mentira tem pernas curtas, diz o ditado popular. A falsa versão pode ser facilmente derrubada, principalmente nesses tempos de transparência e denúncias sobre as coisas erradas. A verdade é a luz que ilumina o caráter. Como disse o poeta Francis Bacon: “é um prazer estar na costa, a ver navios fustigados pelo oceano; é um prazer estar na janela de um castelo, a ver diante de si a batalha e as aventuras; mas não há prazer comparável ao de estar no cume da verdade a ver os erros, os desvarios, os nevoeiros e as tempestades no fundo do vale”.
28. Desconfiar do elogio fácil – O louvor lava a alma. É o reflexo de virtudes de uma pessoa. Mas é preciso ter cuidado com o louvor fácil. Geralmente é falso. O elogio oportuno e moderado é o melhor. As sereias cantam mais docemente quando querem trair, escreveu Drayton, poeta inglês. E Salomão já dizia: “quem se levanta muito cedo para elogiar o amigo não lhe deseja menos do que uma maldição”. E é preciso, ainda, ter cuidado com o auto-louvor. Elogio em boca própria é vitupério, indecente, ensina a velha lição.
29. Ter capacidade de argumentação – Não adianta apenas dizer. Em muitas oportunidades, há de se demonstrar o que se diz. E a boa argumentação se vale de provas absolutas, rigorosas, situadas no campo do conhecimento apresentado. Portanto, argumentar é o dom de convencer os interlocutores, com motivos e razões. Passar do particular ao geral pode ser uma boa tática, assim como dar exemplos, precedentes e ilustrações. E entre as técnicas da boa argumentação, apontam-se: a indução, a explicação, a dedução, a relação causa-efeito, a analogia e a metáfora, a hipótese, a alternativa e o dilema, a dialética e o paradoxo, conceitos descritos anteriormente neste livro.
30. Procurar buscar a felicidade - As tarefas cotidianas levam as pessoas a desleixar a respeito de aspectos fundamentais da vida, como o lazer, a busca do prazer sadio, a busca da convivialidade. Que adianta viver apenas para o trabalho, para os negócios, de acordo com uma visão essencialmente materialista e utilitarista? A felicidade é o sonho maior do ser humano. Urge encontrá-la. “A tarefa de ser feliz pode ser desempenhada. Estuda“. É o conselho de Ceccato, cientista italiano. E é preciso lutar pela felicidade antes que seja tarde. Porque “o homem não tem porto e o tempo não tem margem. Ele corre e nós passamos.” Com este pensamento de A. de Lamartine, encerramos este breve roteiro de sugestões para o aperfeiçoamento do marketing pessoal.
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