UM MUNDO DE CLICKS-CLACKS
Um maravilhoso espetáculo de tecnologia, regado à automação, banhado por sistemas computadorizados em todas as partes, um mundo de clicks-clacks, suaves barulhos de teclas, um universo de luzes piscando em gigantescos painéis que mostram desde grandes ambientes a detalhes do tamanho de uma ponta de lápis, formidáveis objetos reluzentes assumindo a forma de exóticos robôs industriais, um ambiente asséptico, higiênico e limpo, pessoas exemplarmente bem vestidas e confortavelmente instaladas, operando botões e acionando mecanismos automáticos e computadores, máquinas e ferramentas silenciosas aplainando, fresando, cortando, formatando, dando acabamento e embalando produtos – eis aqui a imagem dos ambientes organizacionais neste início de segunda década do século XXI.
Um show de tecnologia caracteriza a organização moderna. Todas as partes do sistema produtivo estão interligadas por vias eletrônicas, formando um conjunto harmônico, sem perda de espaço e energia, fazendo fluir as atividades e produtos dentro da máxima eficiência. O cenário é ocupado por máquinas que não fazem barulho e por computadores. E daqui a pouco as atividades físicas dos homens serão consideravelmente reduzidas, em função da passagem de serviços pesados para os robôs. Suas faculdades intelectivas, em compensação, serão mais exigidas, principalmente nos aspectos de leitura e interpretação de dados e informações.
Imensos painéis eletrônicos – como se fossem grandiosas telas de televisão – radiografam, vagarosamente, os complexos técnicos; e os botões acionados por homens atentos e silenciosos, quando levemente tocados, deterão os painéis sobre determinados processos e máquinas. Cada parte do serviço receberá medição em segundos e qualquer atraso ou perda terá rápida identificação nos painéis, que mostrarão os defeitos dos sistemas. Enquanto o processo flui, um robô-de-conserto sairá agilmente de seu módulo e, levando suas ferramentas, em poucos minutos consertará as falhas.
Estudos ergonômicos darão aos operadores de máquinas e computadores maior equilíbrio e melhor adaptabilidade funcional, atenuando a estafa e o cansaço físico. Um sistema de televídeo conecta os operadores que se falarão olhando-se nos painéis, e agindo como se estivessem juntos, apesar de fisicamente separados por distâncias enormes. Na Sala Oval da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos assiste ao vivo, com seu staff, uma operação de guerra no Afeganistão. Como viu o assalto que redundou na morte de Osama Bin Laden. Os espaços organizacionais são hoje identificados por meio de cores estimulantes e agradáveis e o equilíbrio ambiental irradia uma harmonia de repouso. Em alguns setores, ouve-se música ambiental de fundo, preparada especialmente para animar os espíritos e a criatividade, psicologicamente codificada para estimular emoções positivas.
Nos setores administrativos, as faixas e cargos ganham maior nivelamento e os modelos de gestão se apóiam em processos, onde grupos técnicos especializados se reúnem para resolver problemas, criar produtos, gerar ideias e discutir eficiência. Os grupos são estimulados por um sistema de recompensas, embasado no princípio de participação nos lucros auferidos por determinada linha de produtos. Esses lucros também irão para os bolsos das faixas de operadores, do setor manufatureiro.
A massa de papéis fica restrita às tiras do computador, com dados e informações para leituras especializadas. Painéis coloridos e consoles enfeitam os ambientes e as secretárias formam um contingente especial para operar as infra-estruturas das áreas e setores, mas trabalhando fundamentalmente com informações. As políticas de Recursos Humanos abrigam modelos de recompensas e satisfações sofisticados, criando também espaços para maior democratização do discurso comunitário. Os chefes refluem em seu poder e arbitrariedade e as comunicações verticais e horizontais ganham agilidade, limpidez e objetividade. As reuniões são cada vez mais rápidas e com poucas pessoas.
A administração, no topo, trabalha sob o regime de governança corporativa, a partir de conselhos de administração e consultivos, onde profissionais e empresários podem debater abertamente as diretrizes e as linhas de trabalho. Corporações com muitas unidades fabris possuem centrais de racionalidade técnico-funcional e controles conectados, de forma a atuarem, de maneira sinérgica e integrada, aumentando a eficácia e diminuindo custos.
Tal aparato tecnológico acarreta maiores facilidades operacionais. Mas a questão é: produzem uma taxa maior de felicidade para os trabalhadores? Fica a pergunta: qual será o conceito de felicidade nos dias de amanhã?
Qual será o conceito de felicidade na Telépolis?
Este o espaço que começamos a compartilhar. A cidade mundo onde cidadãos interagem virtualmente, onde a política vai transformando o privado em público. Ou onde a economia transforma o ócio em trabalho e o consumo em produção.
Telépolis é um espaço pluridimensional, esférico, com estruturas formadas de redes de eletrônicas de comunicação que se expandem e se interconectam infinitamente. Não possui limites. Sua identidade é seu fluxo, sua circulação, a capacidade de ser veloz.
Na sua primeira fase, era tecida com comunicações telefônicas e radiofônicas. Depois, juntou-se a elas a televisão não interativa; Agora, junta a televisão interativa, integrando a Internet e o correio eletrônico.
A nova cidade evoca lugares como a praça (telemática) e a auto-estrada (informática). Vemos nela, todos os dias, o mundo distante anexado ao mundo próximo. O lá e o cá conectados. O papa, o presidente, os assassinos e bárbaros, as vitimas, a guerra, os tanques, a pomba da Paz revoando sobre as multidões nas praças. As linguagens se juntam sob fenômenos compactados das ciências. Os parques são, agora, Web sites, a Internet é nossa rede rodoviária, o zapping permite o passeio e a televenda é o nosso shopping.
Telépolis chegou para fazer reluzir nossa mais intima privacidade.
Ademais, nesse novo ambiente civilizatório, o campo do trabalho passa a ser redimensionado. Começa com o aparecimento de novas profissões, principalmente nas vastas frentes das novas tecnologias, que passam a demandar novos pólos de informação, formação, aprendizagem e reciclagem. As categorias profissionais, por sua vez, se reordenam. O modelo fordista – de produção em série e homogênea – dá lugar a formatos fragmentados. Componentes são fabricados em lugares diferentes e distantes, juntando-se, ao final do processo, em uma operação de montagem. A hierarquia rígida sai de campo para ceder às redes horizontais e aos líderes de núcleos e grupos.
Surge uma nova modalidade: o teletrabalho, que usa as ferramentas tecnológicas integradas, o telefone, a secretária eletrônica, os computadores, iPads, iPhones, os livros eletrônicos, as redes sociais (Facebook, Twitter, Linkedin, celular, teleconferência etc), base tecnológica que agiliza os processos de produção e gera a conectividade entre os anônimos. Os processos criativos, por sua vez, adquirem maior poder de autonomia pela ampla possibilidade dos criadores no espaço da cidade mundo. As tarefas produtivas podem ser feitas, a partir de casa, extinguindo as formas tradicionais de hierarquia e mando. O trabalho torna-se, então, dispersão, não sendo abrigado mais em um único espaço. Os efeitos se fazem ver em certa dose de isolamento, jornadas excessivas, enfraquecimento dos núcleos trabalhistas (Centrais Sindicais fazendo, agora, o papel da representação institucional), aumento da produtividade, redução de espaço físico de trabalho e maior flexibilidade operacional.
Podemos distinguir essas mudanças por meio desta configuração:
A ênfase passa do Grupo para o Indivíduo
O conceito de Empresa cede lugar ao conceito de Projeto
O termo Produto é substituído por Concepção
O antigo eixo Casa-Trabalho é substituído pelo eixo Trabalho-Casa
O entretenimento passivo transforma-se em entretenimento ativo
A viagem física tem uma alternativa na viagem virtual
A decisão hierárquica agora é decisão compartilhada, usando a rede social
O generalista tem de ser também especialista
O meio e a mensagem se fundem no Estado Espetáculo
O espaço físico da informação é estreitado por bits
A era tecnológica transforma-se em era digital
A banda estreita cede lugar à banda larga
A baixa velocidade acabou. Agora é a altíssima velocidade
A telecomunicação fixa é coisa do passado. O sistema é móvel.
O mundo velho e distante se renova. E se estreita a cada dia.
Os anônimos se encontram nas redes sociais saindo de suas cavernas
O importante não é apenas ter. É saber.
ESTRATÉGIAS PARA OS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
Cada novo ciclo político-institucional tem a sua linguagem, as suas imagens, os seus ícones, os seus códigos, o seu vocabulário. Estamos abrindo a segunda década do Terceiro Milênio. E, para os comunicadores e analistas dos fenômenos sociais e políticos, uma das tarefas é a de identificar a nova linguagem ambiental. É o que tento fazer com a presente abordagem.
A palavra de ordem é MUDANÇA. Mudar é sair das velhas rotinas, é abrir caminhos, buscar alternativas, sentir o gosto da inovação, fazer experimentações, mudar é avançar, é quebrar os elos do status quo, é investir em criatividade, é apostar em novos perfis. Sob esse guarda-chuva, abrigam-se conceitos-chave. Eles exprimem o ideário do novo ciclo que se abre na moldura das crises (econômica e política). Destaco, entre outros, os seguintes conceitos que emolduram a contemporaneidade:
Inclusão social – Conceito que banha a administração pública no país, e dentro do qual se desenvolvem os programas sociais, destinados a promover a inserção de milhões de brasileiros no mercado de consumo.
Ação social organizada – os governantes prometem não apenas elevar o volume dos gastos públicos com a área social, mas querem fazer das ações sociais o leit motiv da administração. Para tanto, convocam a sociedade organizada, os setores produtivos, as entidades não governamentais, a participarem do esforço pelo resgate social do país.
Parceria e cooperação – Conceito que designa uma forma de integração entre poder público e instituições privadas com o objetivo de fortalecer os programas e projetos destinados a reverter o quadro de miséria crônica do país.
Balanço social – as organizações, em todas as esferas, tanto no campo privado como na área pública, hão de ser cobradas por sua atuação social. Organizações com densos balanços sociais estarão sendo objeto de aplausos e admiração da sociedade.
Gestão democrática – o deslocamento dos eixos tradicionais do poder transfere força para novos e pequenos núcleos de poder, que se localizam não apenas no centro da sociedade, mas nas margens e periferias. Trata-se de uma tendência das democracias contemporâneas em descentralizar a política e seus mecanismos, tornando-os mais abertos e democráticos.
Ética e transparência – o discurso da ética deu muitas vitórias aos atuais dirigentes. Hoje, esse discurso impregna-se nas veias de toda a sociedade, oxigenando pulmões e mentes. Continuará aceso na lamparina da mídia, que, por sua vez, fará o seu trabalho por maior transparência das ações institucionais. Dentro desse eixo, encaixa-se a crítica do presidente contra a “caixa-preta” do Judiciário. O momento sugere a abertura de todas as “caixas-pretas” do país, a partir do caixão maior, o dos Poderes Executivos nas três esferas.
São estes alguns traços e matizes da nova fisionomia social, política e institucional.
Em face dessa moldura, que comportamentos e atitudes empresas e empresários devem assumir?
Eis aqui uma breve uma resposta à luz do desenho e dos horizontes descritos:
1. A primeira atitude é a de cautela – Não ir com muita sede ao pote, nem deixar de beber a água da fonte. Ter o cuidado de avaliar se atitudes e comportamentos tomados podem ser considerados demagógicos, oportunistas e interesseiros. A sociedade organizada está atenta às decisões empresariais, a partir da mídia, que privilegia a pauta da controvérsia e do contraditório.
2. Acompanhar atentamente a dinâmica social, política e governamental – Caminhamos alguns passos na direção da democracia participativa. O governo pretende mudar os eixos decisórios, passando a colocar a sociedade no centro das decisões. Logo, é de todo conveniente empregar recursos no esforço de acompanhamento das mudanças que se promovem na sociedade. Os seguintes movimentos precisam ser monitorados:
Como a sociedade se organiza? Em que esferas sociais esta organização se faz mais forte? Que entidades passam a ter uma locução com maior expressividade e força? Quais as lideranças emergentes na área política? Como está sendo composto o novo grupamento de forças no Congresso? Quais os ministros com maior e menor cacife, maior ou menor força, maior ou menor expressão? Que programas serão viáveis e inviáveis?
3. Promover uma forte articulação político-institucional – Se a descentralização do poder é uma característica da nova sociedade, o caminho natural para as empresas e empresários e o do maior engajamento e participação nas esferas decisórias. Urge considerar a empresa como um ente político, no sentido mais lato do termo. A empresa não é coisa amorfa, inodora, incolor. Há de ter o seu matiz ideológico. A ideologia da responsabilidade, da ética e do compromisso. Significa criar mecanismos mais apurados e sólidos, por meio de suas estruturas de relações institucionais, relações governamentais, relações corporativas.
4. Investir em marketing social – Vimos, anteriormente, que os conceitos de inclusão social, defesa e valorização da Cidadania se inserem na moldura positiva. Portanto, há de se planejar uma ação mais direta dentro desse ideário. Não se trata de fazer marketing assistencialista, distributivista, paroquial. Cito, por exemplo, o caso de uma empresa que acaba de fazer um convênio com ONU no âmbito dos portadores de deficiência física. Ela treina, desenvolve capacidades, orienta, fornece consultoria, enfim, aos deficientes físicos, de acordo com uma estratégia mais forte de inclusão social, não apenas voltada para a empregabilidade.
5. Adotar posturas éticas e responsáveis – Os atos e atitudes empresariais estão passando pelos filtros da opinião pública, a partir da lupa mais acesa da mídia. Demagogia está sendo identificada. Irresponsabilidades, idem. Postura responsável significa assumir posições públicas consoantes com o novo dicionário do meio ambiente. Significa reconhecer o erro, quando necessário. Significa diálogo com os colaboradores, sentar à mesa da negociação. Significa participar de eventos sociais mais amplos, com assento na cadeira da discussão nacional. Significa abrir os compartimentos empresariais que ainda se encontram fechados.
6. Incrementar estratégias e políticas de atendimento aos consumidores – Melhor qualificação de serviços, agilidade, profissionalismo – já são palavras-chave há muito tempo no mundo das economias interdependentes e globalizadas. O fenômeno da descentralização, que vem ganhando densidade e força em todos os espaços mundiais, coloca os consumidores mais próximos dos setores produtivos. O mesmo se pode dizer das administrações. Os munícipes querem se sentir mais juntos das estruturas públicas, a partir, por exemplo, das sub-prefeituras. É lógico que essa proximidade gera elos de maior integração. E, na esteira dessa integração, vem a cobrança, a crítica, a exigência de maior qualidade.
7. Dirigentes e Executivos devem se integrar de forma mais efetiva e estreita às suas entidades – A sociedade brasileira está muito organizada. O universo organizacional tem, cada vez mais, força e capacidade decisória. Trata-se de um fenômeno que deve ser considerado. Parcela do conjunto de decisões passa, preliminarmente, pelas cabeças das entidades, conseqüentemente, pelas vontades dos dirigentes organizacionais e seus liderados. Na lógica do raciocínio, os empresários e executivos precisam estar afinados com essa tônica da organização social brasileira.
8. Criar espaços de visibilidade/melhor qualificação – A sociedade mais participativa coloca na arena da visibilidade mais lideranças, conjuntos mais densos de formadores de opinião. Aqueles que apresentarem discurso mais forte, mais original, mais qualificado, estarão no alto da tuba de ressonância. Este pano de fundo requer mais espaços de visibilidade, melhor qualificação, mais aperfeiçoamento no marketing pessoal. As estruturas de relações corporativas e institucionais, por sua vez, precisarão estar melhor equipadas: quadros e condições.
9. Produzir comunicação transparente e objetiva – Haverá uma proliferação de discursos com as estratégias mais acirradas na área da linguagem e do marketing agressivo. Há que se entender que, na nova disposição social, o modelo de comunicação, antes em forma de funil, acabará tomando a forma de um tubo, onde a entrada tem a mesma conformação da saída. Em conseqüência, pode-se prever uma enxurrada de idéias, muitas confusas e outras disparatadas. Urge, nesse sentido, apurar o foco, ajustar a linguagem, a fim de que a comunicação alcance a meta de transparência e objetividade.
10. Colar na sociedade organizada – Procuramos argumentar, nesta reflexão, que o poder se torna muito descentralizado e pulverizado no Brasil. A organização social se torna intensa. Em conseqüência, urge ouvir o clamor da sociedade organizada, interpretar suas expectativas, colar o ouvido em suas manifestações. Empresas e empresários precisam estar mais sintonizados com o ideário social brasileiro. E entender que a pirâmide social está mesclando seus topos com ganhando atores das bases sociais.
11. O valor da auto-estima – As pessoas têm um sonho recorrente: ter bem estar, voltar a ter esperanças, embalar-se na felicidade, ou seja, resgatar o PNBF – Produto Nacional Bruto da Felicidade. Significa transformar o território bruto da barbárie em uma Nação. Significa cuidar dos espaços dos cidadãos. Torná-los seguros, higiênicos, conservados. Todo esse esforço implicará no resgate da auto-estima, que é o produto brasileiro de maior escassez.
12. Selecionar um grupo de valores – O Brasil do novo ciclo político-institucional que se inaugura abre as portas para um novo grupo de valores, alguns até muito antigos, porém em processo de resgate: a temperança e equilíbrio em contraposição ao ímpeto perdulário e inflacionário, a gastança; o sentido de planejamento em contraposição à desarrumação e ao caos; a cobrança e a crítica, que se opõem ao velho conceito de “deixar como está para ver como é que fica”; a ação grupal e coletiva contra a ideia do individualismo e do personalismo; a punição que se opõe à ideia de impunidade; a ação tempestiva que aparece para confrontar a cultura de protelação, de adiamento; o zelo pelas coisas que se contrapõe à negligência, ao desleixo (o custo Brasil da descontinuidade administrativa é uma calamidade); a cultura da positividade contra a cultura do catastrofismo (a maior crise política, a crise econômica, nada vai dar certo); a cultura da qualificação contra a cultura do apadrinhamento; o isolamento do messianismo e a crítica do populismo e o advento da cultura racional (promessas demagógicas dos políticos); a cultura da descontração e do lazer com elementos de crítica social (o nosso último carnaval deu ênfase ao manifesto político e social).
13. A flor de lótus, a esperança, o otimismo – Empreendedores precisam ser otimistas. Contemplar a flor de lótus que nasce no pântano. Flor que exibe beleza e força. Das águas lodosas, desabrocham flores brancas, imaculadas, uma perfeição da natureza. A política continua cercada de lama por todos os lados, mas são inegáveis as flores que nascem aqui e ali, sob os cuidados atentos de uma gente de fé, que junta forças e motivação para deixar o conforto de suas casas e organizar uma marcha contra a corrupção, dando-se as mãos, erguendo faixas, ecoando palavras de ordem, clamando por decência. Nossa democracia representativa vive o clímax de sua crise crônica. Eventos negativos se sucedem. Ante o refluxo e o descenso do poder centrífugo – o poder das instituições políticas – emerge, abrindo novas fronteiras, um poder centrípeto, que se movimenta a partir das margens sociais em direção ao centro. No espaço intermediário da pirâmide social – e essa é a observação a frisar -, abrigam-se novos grupamentos médios, vindos de baixo, os quais começam a se iniciar nas artes e técnicas usadas pelas classes tradicionais. Essa faceta da composição social passa a gerar efeitos sobre o modo nacional de pensar. A dedução é que as marolas no meio da lagoa pantanosa se multiplicam, com possibilidade de deflagrar uma cadeia homogênea de pressões e interações, as quais, por sua vez, fazem o papel de filtro contra o lodo.
14. O pressuposto da razão – Arremato este conjunto de ideias com um lembrete: Bertrand Russel, pouco antes de morrer, confessava que sua vida havia sido construída sobre o pressuposto da razão. Naquele momento, uma profunda angústia o oprimia: a angústia de perceber quão era frágil e inerme a razão. Calou-se e concluiu: “apesar disso, ela ainda é o nosso único instrumento”.
Devemos conservar a crença que os setores políticos e governamentais, os setores produtivos, os dirigentes, os executivos, os formadores de opinião, enfim, a sociedade organizada acabarão elegendo a razão como o grande instrumento para que o Brasil possa encontrar o caminho de sua grandeza.
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