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Apoio aos desalentados


São quase 5 milhões os brasileiros que perderam a esperança de conseguir emprego. Cerca de 20% estão nessa situação há mais de dois anos. Além de perderem a renda, essas pessoas estão desanimadas, frustradas e deprimidas.


A causa do problema não está nelas, mas na economia do país, que não consegue gerar oportunidades de trabalho para atender a sua gente. É isso mesmo: longe de ser um problema pessoal, o desalento reflete a ausência de investimentos e crescimento econômico e, em última análise, a falta de confiança no futuro do Brasil. Não é para menos. Estamos sempre esperando alguma coisa que não acontece. A previsão do PIB para 2019 era de 3%. Hoje, não passa de 1,5%.


Movidos pela penúria, muitos se dispõem a trabalhar fora de sua profissão e com baixos salários. Mesmo assim, não conseguem colocação. Outras já não têm recursos nem para procurar emprego. Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna o desafio dos desempregados, porque eles perdem contatos pessoais e habilidades profissionais.


É neste campo que eles precisam ter apoio. Programas de treinamento e reciclagem são cruciais para os desempregados preservarem o que sabem e aprenderem o que não sabem.


Isso faz parte das políticas ativas de emprego em contraste com o seguro-desemprego, que integra as políticas passivas.


É verdade que o acesso a treinamentos e retreinamentos é difícil. Mas, graças aos avanços das tecnologias digitais, muitos cursos passaram a ser oferecidos pela internet gratuitamente. Cito aqui o site http://www.meuemprego.sp.gov.br, que oferece vários sem custo. Uma pesquisa rápida na rede de computadores indicará vários outros do mesmo tipo.


O drama do desemprego e o sofrimento dos desalentados exigem que se instale no Brasil uma grande cruzada com ampla divulgação e destinada a treinar e retreinar os desempregados. Órgãos do governo, escolas particulares, entidades do Sistema S e as próprias empresas são integrantes naturais desse movimento.


Neste momento, as políticas ativas se tonam muito mais importantes do que as passivas. O seguro-desemprego tem vida curta (4-6 meses) e em nada ajuda na manutenção do capital humano das pessoas e do próprio país. Os cursos e os treinamentos, esses sim, facilitam o reingresso no mundo do trabalho quando a atividade econômica voltar a se acelerar.


O Brasil já teve um mecanismo que incentivava as empresas a investir de forma continuada na formação profissional dos empregados (Lei 6.297/75). Atualmente, vários projetos de lei tramitam no Congresso Nacional com o mesmo propósito. Vale a pena revisitá-los.


O desemprego demasiadamente prolongado gera graves problemas para o próprio poder público. Além de sofrer a redução de receitas, o governo tem muitas despesas aumentadas, especialmente, na área da saúde. As doenças surgem e se agravam entre os desempregados de longa duração. Pesquisas recentes indicam que 70% dos desalentados apresentam distúrbios físicos em consequência de angústia, ansiedade, depressão e alterações do sono. Isso sobrecarrega o Sistema Único de Saúde e força o governo a despender recursos que não tem.


Os governos federal, estadual e municipal não podem se manter indiferentes aos 28 milhões de brasileiros que vêm sendo afetados pela falta de trabalho. Esta é a hora de mobilizar as instituições para preservar o mais rico de todos os capitais que o Brasil possui — o conhecimento das pessoas. Programas nesse campo, em especial os realizados pela via da internet, não são dispendiosos. O que está faltando é mais ação para ajudar os que mais precisam preservar as habilidades e apreender outras.


*José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP

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