A pouco mais de dois meses da eleição, não se sabe quem se sentará na cadeira presidencial, mas um cenário está definido: seja quem for, comandará um país rachado, em litígio. De um lado, grupos oposicionistas, partidos que se dizem de esquerda, outros impregnados por um discurso de cunho militarista, e uma terceira ala, cuja inspiração é “chegar ao poder a qualquer custo”.
A rigor, não se trata da versão clássica entre direita e esquerda. Após a queda do Muro de Berlim, ficou difícil sustentar o escopo do socialismo clássico ou do comunismo, ainda mais quando seu principal partido, PT, afundou-se na corrupção, flagrado com outros nos dois maiores escândalos da atualidade: Mensalão e Lava Jato.
O cientista político espanhol Manuel Castells, no Caderno Aliás, do Estadão, pontua que a grande questão “não é mais o embate entre direita e esquerda e sim de partidos democráticos (ainda que corruptos) contra uma coalizão neoautoritária apoiada por grupos de interesses ideológicos extremistas internacionais”.
Estamos diante de uma paisagem devastada por granizos de ódio atirados reciprocamente por militantes e setores de classes médias, desfraldando bandeiras e palavras de ordem. Muitos defendem mudanças, mas não esclarecem pontos de vista sobre programas fundamentais, como as reformas política, fiscal-tributária, previdenciária e outras. O discurso petista é genérico: trabalhadores perderam direitos com a reforma trabalhista, a previdenciária acabará com a classe trabalhadora, patati-patatá. No campo das privatizações, defende o Estado paquidérmico, ocupado por militância sem mérito, como nos seus 13 anos de poder.
Na verdade, parcela do ódio saiu do PT, com o lema apregoado até hoje pelo chefe petista Luiz Inácio, o “Nós e Eles”, apartheid social que divide bandidos e mocinhos. Quem se sente atingido, como as poderosas classes médias de São Paulo, faz soar indignação por todos os lados.
Não há condição para se juntar alas adversas em um espaço de boa convivência. Ainda mais quando Lula encontra-se preso, com o petismo e satélites saudando o “salvador da Pátria”, exigindo libertação e elegibilidade. O espetáculo objetiva sensibilizar as margens e organizar uma mobilização centrípeta, das periferias para o centro da sociedade.
O PT busca juntar em eventual 2º turno os partidos da esquerda e do centro-esquerda ( abordagem que apenas distingue uns partidos de outros) – PT, PSOL, PC do B, PDT e PSB -, avolumando a massa partidária para o pleito. Se sair vitorioso ou eleger a aliança, a operação “desmonte das reformas” tomará a atenção do novo governante. Se perder, são previsíveis ações de rua, como a tradicional depredação de patrimônio público e privado.
A harmonia social não virá no primeiro ciclo do novo governante. Que deverá se preocupar com a governabilidade necessária para aprovar os programas no Congresso. Só depois divisaremos paz social.
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