A nova onda de ataques do escritor Olavo de Carvalho contra o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, fez com que os demais militares que despacham no Palácio do Planalto iniciassem uma ofensiva para que o presidente Jair Bolsonaro se distancie do “guru”, que tem o apoio de seus filhos e de uma ala de integrantes do próprio Palácio do Planalto, segundo o jornal Valor Econômico.
O movimento explícito veio com uma mensagem publicada nesta manhã pelo ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que despacha no Planalto como assessor especial do ministro Augusto Heleno. O general divulgou um texto no Twitter em que chama Olavo de Carvalho de “verdadeiro Trótski de direita”. Leon Trótski (1879-1940) foi um intelectual revolucionário bolchevique com destacada participação na revolução russa de 1917. Após a morte de Lenin, foi afastado e perseguido por Stálin, que contratou seu assassinato no México.
Para Villas Bôas, Olavo de Carvalho, que passou as últimas semanas fazendo ataques ao vice-presidente Hamilton Mourão e ao ministro Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria Geral), ambos militares, “age no sentido de acentuar as divergências nacionais”. Homem forte das Forças Armadas e respeitado pelos pares, Villas Bôas quis deixar claro que os militares não vão apanhar calados e que tentarão reforçar a imagem de que eles, sim, atuam com a missão de ajudar o país a se reestruturar.
Na conversa de quase duas horas ontem com o presidente no Palácio da Alvorada, segundo interlocutores, Santos Cruz foi dialogar e tentar “ajustar o discurso” com o presidente, mas não deixou de mostrar a insatisfação com ataques que, na sua consideração, não colaboram em nada para o governo. Hoje cedo, foi o ministro da GSI, general Augusto Heleno, que acompanhou Bolsonaro na viagem ao Rio. Segundo um general que despacha no Palácio do Planalto, Heleno será o “bombeiro dessa crise” cujo objetivo é “isolar Olavo de Carvalho”.
Heleno é desde a campanha um dos principais conselheiros do presidente. Outro interlocutor salientou que Santos Cruz tem uma postura exemplar de militar e “não tem tempo de ficar de bate boca”:
-- Se sair o Santos Cruz, o presidente perderá um fiel escudeiro, ponderou essa mesma fonte, salientando que não acredita que o ministro deixará a “missão”.
Outro militar de alta patente destacou que é preciso parar de “dar destaque a esse energúmeno” e lamentou a condecoração concedida semana passada pelo presidente a Olavo. Segundo essa fonte, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas como instituição irão se unir e deveriam demonstrar repúdio às declarações de Olavo, que ataca os generais: “É um apátrida que faz mal ao Brasil”, disse um general.
Além de Olavo, segundo auxiliares, a relação do ministro com o novo secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, não está das melhores. Wajngarten é subordinado de Santos Cruz e tem apoio da família Bolsonaro. Os dois tiveram algumas divergências na elaboração da campanha da Previdência, mas Santos Cruz tenta minimizar os atritos com o novato no Planalto.
O maior problema do relacionamento, no entanto, é o próprio presidente Bolsonaro, que dá força a Olavo de um lado e, de outro, tenta afagar os militares.
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