RIAD, ARÁBIA SAUDITA - O presidente Jair Bolsonaro afirmou ao Estado de S. Paulo que a publicação em sua conta no Twitter em que se compara a um leão sendo atacado por hienas foi um "erro" e, por isso, pede desculpas.
No vídeo, divulgado na segunda-feira, os animais que ameaçam o leão levam o símbolo de instituições como o Supremo Tribunal Federal, a Organização das Nações Unidas (ONU), o seu partido, PSL, e siglas de oposição - entre as quais o PT e o PCdoB -, além da imprensa. A postagem foi apagada cerca de duas horas depois diante de forte repercussão negativa.
"Me desculpo publicamente ao STF, a quem porventura ficou ofendido. Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação", disse o presidente durante viagem à Arábia Saudita.
No filme postado ontem, o rei da selva se alia a outro leão, chamado “conservador patriota”, parte para o contra-ataque e vence seus inimigos. “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim. E não atacá-lo. Já tem a oposição para fazer isso!”, dizem os letreiros sobrepostos às imagens da fuga. A montagem se encerra com a transição de imagens da bandeira do Brasil para a de Bolsonaro de braços abertos. A trilha sonora épica dá espaço a uma gravação do presidente repetindo o seu lema de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
O presidente afirmou que o vídeo foi publicado em sua conta sem o devido cuidado e que orientou sua equipe a evitar este tipo de conteúdo. "O vídeo não é meu, esse vídeo apareceu, foi dada uma olhada e ninguém percebeu com atenção que tinham alguns símbolos que apareciam por frações de segundos. Depois, percebemos que estávamos sendo injustos, retiramos e falei que o foco (nas redes sociais) são as nossas viagens."
Questionado se o autor da postagem foi o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que já admitiu ter acesso às contas do pai nas redes sociais, o presidente evitou responsabilizá-lo. "Não se pode culpar o Carlos. A responsabilidade final é minha. O Carlos foi um dos grandes responsáveis pela minha eleição e é comum qualquer coisa errada em mídias sociais culpá-lo diretamente. A responsabilidade é minha, tem mais gente que tem a senha e não sei por que passou despercebido essa matéria aí".
Presidente em exercício, Hamilton Mourão disse nesta terça-feira, 29, em Brasília que não assistiu ao vídeo. "Acho que foi alguém que postou. Alguém que tem acesso às redes sociais dele, não sei quem. E ele, obviamente, quando viu, tirou", afirmou. Questionado se seria representado como leão ou hiena no vídeo, Mourão desconversou: "Não vi. Está bom?"
Apesar de Bolsonaro ter pedido desculpas pela publicação, Filipe Martins, assessor da Presidência para assuntos internacionais, insistiu nesta terça-feira, em rede social, na defesa da mensagem difundida pelo vídeo.
"O establishment não gosta de se ver retratado, mas ele é o que ele é: um punhado de hienas que ataca qualquer um que ameace o esquema de poder que lhe garante benefícios e privilégios às custas do povo brasileiro. Isso só mudará quando o Brasil se tornar uma nação de leões", escreveu Martins no Twitter.
Ao comentar o vídeo, o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, disse em nota que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.
-- É imperioso que o senhor Presidente da República - que não é um ‘monarca presidencial’, como se o nosso País absurdamente fosse uma selva na qual o leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados - saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a magistratura do Brasil”, disse o decano em nota.
Comentários